Transtorno Bipolar Tipo I
No post anterior, apresentamos noções gerais sobre o Transtorno Bipolar e suas variações, bem como a utilização da Terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento paralelo à medicação.
Agora, vamos esmiuçar um pouco mais sobre o Transtorno Bipolar (TB) – Tipo I e seus impactos na vida de quem o tem.
É de conhecimento de que o TB, independentemente do tipo, apresenta uma alta herdabilidade (ou seja, é um transtorno onde o componente genético é bastante importante, se comparado com fatores ambientais). Por isso, na entrevista inicial com psicólogo ou psiquiatra, é fundamental que o profissional investigue dados sobre parentes mais próximos (pais, avós, irmãos), sempre que possível. É importante frisar que, quando falamos de “trazer dados”, não é só um diagnóstico formal, mas sim comportamentos e atitudes daquele parente que chamavam atenção. Isso porque alguns comportamentos poderiam ser confundidos com a personalidade da pessoa o que impediria, em muitos casos, a procura de um profissional da saúde mental e, consequentemente, um diagnóstico formal.
Sintomas
O TB Tipo I é caracterizado por episódios maníacos e depressivos, que podem durar pelo menos uma semana e trazem prejuízos significativos na vida da pessoa.
De acordo com a ABRATA (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores do Transtorno Bipolar), os episódios de mania são caracterizados por – pelo menos – 3 dos seguintes sintomas: autoestima inabálavel e grandiosidade, irritabilidade e agressividade, envolvimento com atividades de risco (impulso para compras, sexo e outras atividades perigosas), alta energia e predisposição para se envolver em diferentes projetos de vida diferentes ao mesmo tempo, aceleração ou ativação do pensamento, distração e redução da necessidade de sono.
Um dado importante é que na mania, diferente do que se imagina no senso comum, a agressividade e a irritabilidade são as alterações de humor mais frequentes, se comparado com o excesso de alegria ou euforia. Uma outra característica presente é a possibilidade de ter a presença de sintomas psicótico dentro de um episódio de mania.
Já nos episódios depressivos, a apresentação dos sintomas é semelhante ao que ocorre na depressão “convencional” (também chamada de depressão unipolar e oficialmente denominada Transtorno Depressivo Maior):
- Humor deprimido (sentimento de vazio, tristeza e desesperança)
- Perda de interesse/prazer
- Perda de peso
- Insônia ou hipersonia
- Agitação ou retardo motor (observado por terceiros)
- Fadiga e perda de energia
- Sentimento de inutilidade
- Redução da capacidade de se concentrar, pensar e tomar decisões
- Pensamentos recorrentes de morte e ideação suicida
De acordo com o DSM-5-TR, para um episódio depressivo, devemos observar a frequência (a partir de 2 semanas) e a intensidade (sintomas presentes em todo o dia e quase todos os dias da semana).
Características e Diagnóstico
Um grande desafio no diagnóstico do Transtorno Bipolar é a variedade de apresentações clínicas dos sintomas. Diferente de outros transtornos, como o Transtorno de Pânico, que a sua apresentação é nítida e semelhante em diferentes pessoas, no Transtorno Bipolar há uma variedade de combinações, frequência de sintomas, frequencia de episódios que dificulta muito o seu diagnóstico, por isso, algumas observações são fundamentais para um diagnóstico preciso.
Um exemplo disso é a depressão que ocorre antes dos 25 anos de idade. A chance dela ser um episódio de transtorno bipolar e não uma depressão unipolar é muito grande. O risco de um diagnóstico equivocado pode ser severo tanto em um processo de psicoterapia (pois a depressão não teve influência ambiental e pode-se ter a percepção que a terapia não evolui), como em um tratamento medicamentoso, pois a depressão em um transtorno bipolar tende a ser piorada se for tratada com antidepressivos convencionais, isso porque o tratamento mais adequado para a bipolaridade é com estabilizadores de humor.
Uma outra característica muito comum é a descoberta do transtorno bipolar mediante um episódio depressivo. Isso porque um episódio de mania, apesar dos grandes prejuízos, pode ser confundido com um momento da vida ou característica pessoal (exemplo disso é a pessoa que dirige sua energia para o trabalho, que é algo socialmente aceito e valorizado).
Por isso, se você apresenta alguns dos comportamentos citados ou conhece alguém cujas atitudes se assemelham aos sintomas (mesmo que tenha sido há muito tempo atrás, uma única vez) é importante alertar e procurar orientação especializada.