Quando as emoções saem do controle
No último post, falamos um pouco sobre as emoções, as formas como elas podem se manifestar, sobre a ideia equivocada de tentar controlá-las e a relação das emoções com nossas ações (comportamentos). Agora, vamos explorar a relação das emoções com os transtornos psicológicos e a importância de cuidar da nossa dimensão emocional para uma vida mais saudável e de menos sofrimento.
Atualmente, existem diferentes tipos de transtornos mentais, mapeados e catalogados em diferentes fontes (a saber, no CID-10 e no DSM-5-TR), que são base para consulta de profissionais da saúde mental e auxiliam no diagnóstico e, consequentemente, no tratamento destes transtornos. O que existe em comum em todos, é a desregulação de algum sentimento. Esta desregulação acontece tanto na sua versão mais intensa, como na sua ausência. Portanto, estamos falando de extremos.
Utilizamos 3 critérios para considerarmos que uma emoção está desregulada:
- Frequência: Quantas vezes isso ocorre ao longo do tempo. Aqui, falamos da repetição;
- Intensidade: Quando acontece, ela é desproporcional à experiência vivida. Estamos falando em termos de “Níveis” (Uma forma de avaliar, é se perguntando: de 0 a 10 que nota eu dou para a emoção que estou sentindo agora? Quanto mais perto do 0, menos intenso, quanto mais perto do 10, mais intenso)
- Duração: Uma vez desregulado, eu levo muito tempo para voltar ao meu estado basal.
O sentimento que ocorre destas 3 formas, é geralmente causadora de um sofrimento bastante grande, seja para a pessoa, seja para outros que estão por perto. Na clínica, chamamos oficialmente de “sofrimento clinicamente significativo” e é um critério para identificarmos a presença de um transtorno.
As emoções dentro dos transtornos mentais
Dentro de cada transtorno mental, podemos identificar a presença de um certo padrão emocional. Em terapia, perceber este padrão nos dá dicas de que transtorno pode estar ocorrendo com a pessoa. Por exemplo, se uma pessoa chega à terapia dizendo que fica muito “ansiosa e preocupada” sempre que precisa ir a festas ou a lugares onde terá pessoas, podemos ter como hipóteses o Transtorno de Ansiedade Social, Agorafobia (o medo de lugares públicos) ou mesmo o Transtorno de Pânico. O que vai nos levar a diferenciar cada um dos 3 é o alvo desta ansiedade (o medo do julgamento na Ansiedade Social, o medo das multidões ou do lugar público em si na Agorafobia ou o medo de passar mal ou morrer no Transtorno de Pânico). Mas veja, que a ansiedade nesta apresentação, exclui uma série de outros transtornos, auxiliando assim na direção do tratamento.
Continuando neste exemplo, se a ansiedade para ir a uma festa é frequente, intensa e demorada pode gerar um desconforto tão grande que a pessoa pode adotar o comportamento de evitar ir a qualquer tipo de festa ou reunião de pessoas, levando a um maior isolamento social, a sentimentos de incapacidade e até mesmo passando a ter outros sentimentos que vão agravando o seu quadro: vergonha, decepção, raiva de si, etc.
Podemos estender este exemplo a outros transtornos, como por exemplo:
A raiva, presente no Transtorno Explosivo Intermitente, no Transtorno Bipolar (quando o humor está irritável), no TDAH (pela dificuldade de controle da impulsividade), no Transtorno Opositor Desafiador, no Transtorno Disfórico Pré-Menstrual.
A tristeza, nos Transtornos de Humor (Depressão, a Distimia (um tipo mais brando e persistente de depressão) e nos episódios depressivos do Transtorno Bipolar, etc. Até mesmo a alegria excessiva – vista como humor eufórico – na fase maníaca do Transtorno Bipolar.
Vale aqui um adendo importante, quando falamos de desregulação emocional, pois no Transtorno de Personalidade Borderline, podemos identificar a intensificação de quase todos os sentimentos expressos pela pessoa, isso porque este transtorno traz como característica uma hipersensibilidade levando a uma explosão emocional diversificada, seja no medo, na raiva, na tristeza, na mágoa, na decepção. Tudo é vivido muito intensamente.
A ausência de emoção, também pode ser um indicativo de transtorno. Na Esquizofrenia e no Transtorno de Personalidade Antissocial, percebemos uma redução importante na expressão emocional, levando a um maior sofrimento de quem convive com a pessoa, mais do que com a pessoa em si.
Por fim, vale destacar que a desregulação emocional por de forma isolada, não é indicativo de um transtorno. Cada um possui uma série de critérios que precisam ser atendidos para que sejam diagnosticados e tratados. Além disso, não devemos esquecer que estamos vulneráveis a diversos fatores e, pode ser que em algum dia, estejamos mais frios e distantes ou mesmo mais sensíveis e “à flor da pele”. Ocorrências isoladas podem acontecer e, cabe a nós identificarmos e estarmos atentos para lidar com a situação de uma forma menos prejudicial possível.
Formas de lidar com as emoções
Seja pela existência de um transtorno, seja pela dificuldades em lidar com certas emoções, a terapia é uma ferramenta crucial para que possamos aprender a reconhecer (o que estou sentindo?), nomear (qual emoção é esta?) e agir (o que faço com esta emoção?) em situações que tragam uma carga emocional importante. Algumas técnicas, como o automonitoramento, são importantes para estarmos atentos ao que acontece e então trabalhar para o melhor desfecho possível.
Atividades físicas e de lazer são fontes importantes de gerenciamento emocional, na medida em que atuam ativando o cérebro para sensações de prazer e satisfação, reduzindo por exemplo, níveis de stress (que é um forte fator de predisposição a emoções intensas e desadaptativas).
A meditação mindfulness também é uma excelente forma de combater emoções desreguladas, principalmente a ansiedade, na medida em que se propões a trazer a pessoa “para o momento presente”, tirando-a do ciclo de preocupações e antecipações acerca do futuro, muito comum nos transtornos de ansiedade.
Agora que você conheceu um pouco mais sobre as emoções e o quanto elas podem impactar e limitar nossas vidas, avalie como anda sua saúde emocional e reflita sobre o que você tem feito para cuidar dela! Boa jornada.